Ontem à noite arrombaram o porta-malas do meu carro e roubaram o pneu estepe. Levaram também o macaco, a chave de roda e um jogo de ferramentas vagabundas colocadas lá pro caso de uma emergência. Mas o pior mesmo é que roubaram os materiais de maquiagem da minha esposa (que é maquiadora profissional, diga-se de passagem).
Acredito que o estepe tenha sido o motivo principal da “invasão”. Os materiais de maquiagem foram um adendo que provavelmente não servirão pra nada pra quem os levou.
Mas isso me vez pensar nas coisas... pombas! Por que diabos alguém rouba uma desgraça de um estepe? Um estepe?!?
A resposta óbvia é: porque alguém compra. Simples. Óbvia. Direta.
Olhei agora a pouco e vi que a internet está cheia de ofertas de estepes “a preço de banana”.
Tem estepe sendo vendido por aí por R$ 20,00. R$ 20,00!!! Qualquer estepe em um fornecedor lícito deve custar, só de imposto, umas 10 vezes mais!
Claro que o roubo tem como sua origem principal a pobreza, a miséria e a má distribuição de renda. Entram nesse balaio outras coisas também, como viciados que roubam pra comprar suas drogas (lícitas ou não), mas até isso é também uma consequência da pobreza.
O fato é que os ladrões se alimentam da gente. Te todos nós. Não porque eles nos roubam, mas sim porque compramos os produtos dos roubos.
Se vc já comprou um produto em camelô (não são todos, claro), se vc já fez compras em “paraísos do preço baixo” como a Santa Efigênia ou se aproveitou uma oferta absurda em um site duvidoso na internet, muito provavelmente vc já comprou produtos roubados. Sendo assim, já “deu de comer” à indústria do roubo. Claro que nem todo mundo na Santa Efigênia vende produto roubado, mas lá é um bom lugar para um receptador de mercadorias roubadas “desovar” suas coisas...
Nós nos apegamos tanto ao valor financeiro das coisas que só nos preocupamos em pagar pelo preço mais barato. Esquecemos que aquilo que estamos comprando faz parte de um grande ciclo de coisas do qual nós mesmos fazemos parte.
Parece demagogia, mas não é. Quando optamos por comprar produtos mais baratos, em fornecedores de procedência duvidosa (ou pior: quando sabemos que é fruto de roubo), estamos contribuindo para uma indústria de roubos e assaltos que invade carros, casas, vidas...
Sim, os produtos legalizados são caros (o governo também não contribui e joga imposto a rodo em cima de quem é honesto), eu sei. Mas os produtos “alternativos” acabam saindo mais caro pra todo mundo à longo prazo. No fim, gastamos até mais por causa deles.
Claro que a origem de tudo isso, a pobreza, precisa ser combatida, assim tiramos a “mão de obra” do crime. Mas não comprar produtos de origem duvidosa é nossa pequena parte nisso tudo.
Sei que a coisa é bem mais complicada do que estou expressando aqui. Há muitos “poréns” nas entrelinhas.
No final das contas, nada de realmente ruim aconteceu. Minha esposa e eu estamos bem, ilesos, e o prejuízo é só material.
Esta carta é só um desabafo inútil. Nada vai mudar. Nada nunca muda. As pessoas são mesquinhas e nunca vão perceber as coisas que comento aqui. Tudo seguirá seu fluxo normal, como sempre foi no passado, como é hoje e será no futuro.
Vou comprar (em algum lugar honesto) outro estepe, outra chave de roda e outro macaco, obrigatórios por lei. Vamos comprar novamente todos os materiais de maquiagem da minha esposa. Vamos, ambos, trabalhar muito pra pagar esta conta.
Enfim...
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Nunca comprei nada de origem duvidosa. Nunca.